31.07.08
Acusados de masoquismo psicológico, os emos são alvo de represálias de gangues no Brasil, da mídia no Reino Unido e, na Rússia, até mesmo do governo
Eduardo Ribeiro, texto
Anna Gordon, fotos (The Guardian)
Uma cultura jovem tem atraído muitos adeptos no mundo inteiro desde o ano de 2003 pra cá, quando Dashboard Confessional e My Chemical Romance se tornaram populares. Puxando uma série de outras bandas, esses nomes vieram na carona de outros já bem sucedidos no cenário "alternativo", como Jimmy Eat World, New Found Glory e Saves the Day.
As canções, de tão dramáticas, fomentaram uma nova onda entre os adolescentes. E o visual, misturando referências que vão do punk ao gótico, passando pelo glam e o jeito típico de vestir do pessoal do hardcore melódico, criou a identidade. A essa turma, convencionou-se chamar de "emo" como um termo pejorativo, quase uma ofensa, mas muito bem aceito por eles.
A ironia é que aquilo que conhecemos hoje por emo não tem muito a ver com o chamado Emotional Hardcore surgido em Washington DC em meados dos 80. Era nada além do que um hardcore mais harmonioso, com direito a dedilhados, notas soltas, oitavadas. Coisas que o movimento punk originalmente renegava na crueza dos três acordes. E dos versos.
Nasce o rótulo
Com letras que se opunham à agressão pura e simples contra o sistema, uma nova leva de bandas foi classificada pela primeira vez como emo pelo fanzine Maximum Rock'n'Roll. Depois, a revista Trasher e outros veículos ajudaram na caricatura de grupos como o Embrace, de Ian Mckaye (mesmo do Fugazi e Minor Threat, chefão da Dischord Records), Dag Nasty e Rites of Spring. Mais tarde apareceriam Falling Forward, Texas is the Reason, Sunny Day Real Estate, Mineral, Elliott, Sense Field, Lifetime, Hot Water Music, Split Lip e Get Up Kids. Esta segunda safra teve seu momento nos anos 90.
O visual emo na virada dos 80 pros 90 era outro. Cabelo curto, óculos de armação preta, camisa com bolso, calça jeans, tênis de skate e mochilinha sem muitos adereços. Com o tempo, a nova geração emo pós-Blink 182 subverteu totalmente aquilo que já não passava de estereótipo.
Vale informar que os primeiros grupos considerados emo nunca assumiram o rótulo, ao contrário do que testemunhamos hoje. Entendiam a tarja como chacota de jornalista. Da simples busca pela sensibilidade na música hardcore-punk, vejam só, nasceu uma tribo social, além de lucrativo mercado.
A meninada encontrou na palavrinha um abrigo para qualquer coisa indefinida. A imagem de fragilidade pela qual ficaram marcados, estimulada pela melancolia gótica, faz sucesso, mas incomoda a sociedade.
Agressão e repressão
No último sábado, em Santo André, um rapaz de 16 anos foi agredido por sete pessoas por se assumir emo. Este não é o primeiro dos casos. Já aconteceram espancamentos em São Paulo, na região da Augusta. O ataque recente foi próximo ao Shopping ABC, conhecido ponto de encontro da tribo. O menino foi levado ao hospital.
Segundo uma testemunha, o espancamento se deu por volta das 21h, e mais ou menos 200 "emos" foram surpreendidos por umas 50 pessoas. A violência é atribuída a Skinheads e ao sentimento de homofobia - já que entre os emos a diversidade sexual é vista com bons olhos.
Em outros países, a cultura emo também sofre tiranias. Com o argumento de que os emos propagam uma "ideologia do negativismo", alguns políticos da Rússia querem colocar em vigor uma lei Anti-Emo. É isso mesmo. Sites deverão ser monitorados, músicas e videoclipes censurados, e um determinado look, desejam eles, será classificado como crime.
A proposta de lei descreve emos como: "Jovens entre seus 12 e 16 anos, vestindo roupas em cores preto e rosa, cintos com rebite, unhas pintadas, piercings aplicados no rosto e na orelha e cabelo preto com franja cobrindo parte do rosto". A descrição afirma que a cultura emo encoraja a depressão, a reclusão social e até a prática de suicídio. A intenção é que a lei passe a funcionar até o final do ano.
Protestos
Na Sibéria, em Krasnoyarsk, uma legião de franjas negras tomou as ruas em protesto contra o governo e a legislação Anti-Emo. Cartazes exibiam frases como "Mate o estado em você" e "Um estado totalitário encoraja a estupidez".
No Reino Unido, os emos marcharam contra a imagem deles propagada pela mídia, especialmente nos tablóides. Os jornalecos alegam que a música emo pode levar ao suicídio.
Ficam duas perguntas diante dos fatos e da transformação que sofreu toda essa idéia do emo:
- Que tipo de necessidade de auto-afirmação foi capaz de agregar tantos adeptos?
- Que mundo é esse onde, a despeito de todas as opiniões adversas, as pessoas não podem gozar do direito ao livre arbítrio?
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