02 julho 2008

Alto teor sexual

Empresa americana apela para a nudez para vender cachaça nos EUA e acende uma discussão sobre a imagem do Brasil no Exterior
DANIELLE SANCHES

UM ANÚNCIO PUBLICITÁRIO VEICULADO EM revistas americanas como GQ, Men's Vogue e Esquire acendeu uma polêmica ao redor de um dos produtos mais brasileiros que existe: a cachaça. Na propaganda da marca americana Cabana Cachaça, uma mulher supostamente brasileira surge nua com marcas de biquíni e sandálias de salto alto, em poses picantes. Nas fotos, pode-se ler "autenticamente brasileira". Criada pela agência norte-americana Avrett Free Ginsberg, a peça publicitária ainda contém o endereço da página da web da empresa. Lá, é possível assistir a um vídeo da modelo posando em vários ângulos e simulando movimentos eróticos ao lado de uma garrafa da cachaça. Se o teor alcoólico da bebida destilada de cana-de-açúcar chega a 48%, o teor sexual da propaganda incendiou uma grande discussão nos Estados Unidos. No blog adfreak. com, especializado em publicidade, abriu-se espaço para um bate-boca entre os internautas americanos e brasileiros. "As fotos estão superestereotipadas, como se todas as mulheres brasileiras fossem sensuais e fáceis para todos. Isso é ultrajante", disse uma das leitoras. Os comentários dos americanos são, definitivamente, impublicáveis.

Para a empresa, tudo não passa de um mal-entendido. "Uma foto em preto-e-branco de uma bela mulher brasileira não é degradante", disse Matti Antilla, proprietário da Cabana Cachaça, à DINHEIRO. "A relação entre beleza e Brasil chama a atenção e é algo de que os brasileiros deveriam se orgulhar. As imagens são sofisticadas". Sofisticação só para gringo ver. "Os brasileiros têm que se perguntar por que essas imagens foram escolhidas como representativas do País", afirma Pedro Cappeletti, vice-presidente de criação da agência de publicidade brasileira Fischer América. "Afinal, qual é a imagem que exportamos?", questiona. Apesar de o Brasil ainda ser visto como a terra do futebol e do Carnaval, a propaganda passou dos limites. De acordo com o código do Conselho de Destilados dos Estados Unidos, órgão que regulamenta os comerciais de bebidas alcoólicas naquele país, é vetada qualquer espécie de publicidade que contenha nudez gratuita e conotação sexual. Mas o que a agência responsável pela campanha da Cabana Cachaça diz sobre isso? Frank Ginsberg, CEO da Avrett Free Ginsberg, não respondeu.

Além de aquecer a discussão sobre preconceito e desconhecimento em relação ao Brasil, o anúncio mostrou que os estrangeiros estão deixando os brasileiros para trás na exploração da cachaça como negócio. Quem souber trabalhar a imagem da bebida de forma correta pode lucrar, e muito, nos EUA e nos países da Europa. É o caso, por exemplo, da marca Leblon. Idealizada pelo americano Steven Luttmann, os negócios vão tão bem que a empresa adquiriu recentemente mais uma destilaria em Minas Gerais. Casado com uma brasileira e amante da cultura nacional, Luttman deixou de lado os clichês na hora de fazer a campanha de publicidade da cachaça Leblon. "O Brasil é um país rico e complexo, com muito mais a oferecer", afirma. Com aproximadamente 30% do mercado norte-americano, o empresário dá uma lição de criatividade na hora de conquistar o consumidor: convocou 30 especialistas da bebida para explicar o que é cachaça - muitos a confundem com o rum - e ensinar a fazer uma caipirinha. As aulas acontecem nos principais pontos-de-venda da marca nos EUA. "Devido à demanda crescente dos consumidores, estamos trabalhando em dobro", diz Lutmann.

ESTEREÓTIPO: na foto, lê-se "autenticamente brasileira". Propaganda gerou brigas em fóruns de discussões na internet

ISTOÉ DINHEIRO

2 comentários :

Jack's13 disse...

Bom dia sou estudante de publicidade e estou procurando materiais sobre o indevido uso da imagem da mulher brasileira. Você poderia passar a fonte do anúncio? agradeço desde já

Diário de Paracatu disse...

Ola Jack13_chan, a fonte do anuncio esta logo abaixo da reportagem, é o link da Isto É DINHEIRO. Só clicar nele e seguir para a pagina que retirei a matéria.

abraços