27 junho 2008

Teste mostra prós e contras de serviços de download de filmes

Jornalista conta sua experiência com Apple TV, Xbox 360, Vudu e TiVo e conclui: serviços pecam em preço, seleção de filmes e flexibilidade de utilização.

DAVID POGUE* Do New York Times


Depois do HD-DVD, download é próximo obstáculo do Blu-ray, dizem analistas. Mas na realidade, a era de downloads de filmes está mais distante do que os comentaristas pensam, por quatro enormes razões.

Primeiro: o download de filmes exige conexões de internet de alta velocidade – e apenas cerca de metade das residências dos EUA têm esse tipo de conexão, número que deve permanecer inalterado por muitos anos. No Brasil, segundo pesquisa da IDC, 3,8% da população tem acesso à internet rápida.

Em segundo lugar, filmes baixados não incluem comentários do diretor, cenas deletadas, finais alternativos, áudio em outros idiomas e outros benefícios do DVD. Ou seja, não são uma experiência tão interessante.

Em terceiro lugar, downloads não propiciam a mesma qualidade de áudio e vídeo que os discos de DVD – mesmo os de definição standard. Filmes na internet têm de ser comprimidos para que o download seja mais rápido, o que afeta a qualidade da imagem e oferece trilhas sonoras mais comprimidas do que os modernos DVDs.

Por último, os atuais serviços de download de filmes têm a marca engordurada dos dedos dos executivos dos estúdios – e quando o assunto é a nova era de filmes digitais, essas pessoas não são, como dizer… muito conhecidas por sua visão.

Qual a lógica?
Não importa qual serviço de download de filme você escolha, você sempre se verá diante da mesma confusa e ridícula limitação de tempo para assistir. Você tem de começar a ver o filme que alugou dentro de 30 dias e, depois que começa, tem de terminar em 24 horas.
Onde está a lógica? Eles já estão com seu dinheiro, por que eles deveriam se importar se você começa a assistir no 30º dia ou no 31º?
E há o limite de 24 horas. Suponha que você, normalmente, não comece a ver um filme antes das 19:30, depois de ter jantado e feito a lição de casa. Se você não tiver tempo para terminar o filme de uma vez só, você não pode continuar às 19:30 na noite seguinte, já que o download terá se auto-destruído.
O que os estúdios perderiam ao oferecer um período de aluguel de 27 horas? Ou três dias, ou mesmo de uma semana? Nada. Na verdade, eles atrairiam milhões de novos consumidores. (Ou pelo menos, em vez de ser apagado, o filme poderia enviar uma mensagem dizendo: “Você gostaria de comprar um período de mais 24 horas por US$ 1 a mais?”).
E há o fato de que, para proteger sua principal fonte de lucros, a maioria dos estúdios não lança seus filmes na internet até que tenha se passado um mês de seu lançamento em DVD.
Apesar dessas limitações, muitas empresas estão investindo na fronteira do download digital. Algumas entregam os filmes direto na tela de seu computador, o que só terá apelo junto aos nerds, pois ninguém reúne a família em volta do velho Dell na noite de cinema.
Diversos aparelhos, porém, entregam filmes direto na sua TV, geralmente por US$ 3 a US$ 5 cada. Aqui vai um relatório sobre esses equipamentos e serviços, que não estão disponíveis oficialmente no Brasil. A escala vai de notas vai de A+ (melhor) para D- (pior).
Apple TV

Graças ao software gratuito para upgrade, a elegante caixinha da Apple assumiu uma vida inteiramente nova. Ela agora se conecta diretamente à loja iTunes – sem computador. Os filmes são armazenados no disco rígido interno da Apple TV.
Os filmes de definição padrão começam a passar apenas alguns segundos depois que você os seleciona, e é possível assistir ao início ainda durante o download. Filmes de alta definição demoram vários minutos para começar.
Em alguns anos, a Apple TV talvez seja a melhor opção. A loja de filmes é divertida para se navegar, a qualidade da imagem é alta e a rede wireless (sem fio) está embutida nela, ao contrário de seus rivais. Você pode comprar episódios de qualquer uma das 65 séries de TV à escolha (geralmente ao custo de US$ 2 por episódio, sem anúncios), algo que a concorrência não consegue alcançar. Por último, é claro, a Apple TV faz muitas outras coisas. Ela pode apresentar todas as músicas, fotos e filmes de seu Mac ou PC e tocar podcasts e vídeos da web.
Mas as prateleiras da loja de filmes da Apple parecem um pouco vazias. Menos de mil filmes estão disponíveis e apenas 100 são de alta definição, comparados aos 90 mil títulos oferecidos pela Netflix em DVD, 900 em alta definição. (A Apple aponta o fato de que seu catálogo da loja de música também começou pequeno – 200 mil músicas, comparado aos 6 milhões de hoje). Há, também, alguns bugs bobos no programa.
TiVo/Amazon Unbox

Aqui está outro aparelho cujo propósito original era outro, e não baixar filmes. Mas dentre seu portfólio crescente de características voltadas para vídeo, o TiVo deixa você alugar ou comprar filmes baixados do serviço Unbox da Amazon.com.
Pelo menos você não tem mais de pedir esses filmes na Amazon.com (apesar de poder, utilizando seu Mac ou PC, se preferir digitar o nome dos filmes com um teclado de verdade em vez de ficar mexendo com um alfabeto de letras na tela). Você pode fazer toda a transação direto de seu sofá.
A apresentação não começa instantaneamente. Nos TiVos de alta definição você não pode começar a assistir até 10 minutos depois de fazer seu pedido, e nos modelos mais antigos é preciso esperar até que o filme inteiro seja baixado (de 1 a 5 horas). A seleção ainda é bem pequena: 3.200 filmes estão disponíveis para aluguel, 4.700 disponíveis para compra. Nenhum deles é em alta definição.
Xbox 360


Mais uma vez, outra opção cujo serviço de filmes não é a atração principal (aqui, o que importa são os jogos). Mas, nesse caso, os filmes não são apenas secundários – eles estão bem mais abaixo na lista.
Você tem de assistir os filmes em 14 dias, não 30. O controle remoto que acompanha o videogame não foi criado para passar vídeo, embora você possa comprar um controle específico à parte.
Você paga pelo filme utilizando o confuso sistema de “pontos” da Microsoft, também usado para as outras compras pela Xbox Live. E mesmo que haja diversos programas de TV disponíveis, apenas 300 filmes estão no catálogo de cada vez, cerca de metade deles em alta definição.

Vudu

Essa caixa preta compacta vem carregada com a introdução de 5 mil filmes. Quando você compra ou aluga um, ela começa a tocar instantaneamente. Cerca de 20 novos filmes chegam a ela a cada semana, substituindo os mais antigos do disco rígido de 250 gigabytes.
Vudu é a única caixa dedicada a filmes. A interface é pura e limpa, a qualidade da imagem é excelente e o controle remoto só tem quatro botões (e mais uma ótima seleção por roda giratória).
O lado ruim é que muitos dos 5 mil filmes são pura porcaria, daquele tipo que é lançado direto em vídeo (alguém quer assistir “San Franpsycho” hoje à noite?). De forma bastante confusa, os filmes da lista vêm de acordo com os acordos que a Vudu faz com os estúdios. E você precisa de uma conexão bem rápida: quem tem assinatura de banda larga básica não precisa se candidatar.

Download em andamento

Na competição com o humilde DVD, as aparelhos que baixam filme pela internet vão mal em termos de preço, seleção e flexibilidade para quem assiste (ou seja, o tempo de que você dispõe para assistir o filme). A única característica atraente é a conveniência, já que você obtém o filme imediatamente.
Enquanto isso, outros recursos de gratificação instantânea de filmes estão surgindo. Comcast, a maior empresa de TV a cabo dos Estados Unidos, oferece mil filmes para serem pedidos pelo usuário a cada mês, muitos deles gratuitos; até o final do ano, ela planeja aumentar esse número para 6 mil (metade deles em alta definição), e você não terá de comprar uma caixa especial.
O ponto fundamental é: todo negócio de filmes pela internet ainda está engatinhando, e um dia nós olharemos para esses serviços de escolha e tempo limitados e iremos dar risada. Nesse meio tempo, parabéns ao Blu-ray, vencedor do formato de DVD da próxima geração. Discos prateados giratórios claramente permanecerão como o sistema de entrega de filmes dominante nos anos futuros.

* David Pogue é colunista de tecnologia do “The New York Times”. Autor de diversos livros, ele também é responsável pela série Missing Manual, que ensina como usar programas de computador.

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