17 junho 2010

Entrevista de um ex-combatente Brasileiro na Guerra do Golfo.

gulf war 

A Guerra do Golfo foi um conflito militar iniciado em 2 de agosto de 1990 na região do Golfo Pérsico, com a invasão do Kuwait por tropas do Iraque. Esta guerra envolveu uma coalização de forças de países ocidentais liderados pelos Estados Unidos da América e Grã Bretanha e países do Médio Oriente, como a Arábia Saudita e o Egito, contra o Iraque.

Depois da Guerra Irã-Iraque, a Guerra do Golfo foi possivelmente um dos maiores massacres da história do Médio Oriente. Mais de 100 mil soldados iraquianos foram mortos contra cerca de mil baixas das forças da coalizão. (fonte Wikipédia)

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Esta é uma entrevista que recebi por email de um ex combatente brasileiro que serviu na guerra do Golfo no inicio dos anos 90, não sei se é verídica, mas conheço relatos que muitos brasileiros serviram nas forças armadas fora do Brasil, e muitos serviram como mercenários.

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RP:repórter

SS: soldado silva

RP: Bom dia, vamos começar ? Posso te chamar de Silva ? (nome trocado para preservar a identidade)

SS: Bom dia, pode sim.

RP: É curioso encontrar um brasileiro que lutou na guerra do golfo, nos conte como isso aconteceu.

SS : Bem, eu estava morando fora do Brasil na época do conflito, e um colega que era militar nesse país me informou que uma agencia dos EUA estavam recrutando pessoas para lutar na guerra do golfo, a única condição que eles exigiam era que tivesse já treinamento militar, já tivesse servido.

RP:E como você chegou até eles ?

SS : isso foi fácil, na época houve muita movimentação acerca disso, e muitos como eu, que tinham servido em seus países esperavam poder se juntar a essa força especial.

RP: você disse outros, tem mais estrangeiros lá, não somente brasileiros ? Vocês foram como voluntários, ou mercenários ?

SS: sim, alem de brasileiros que não eram muitos, tinham pessoas de outros países. O alistamento era voluntário, mas o serviço era para ser soldado mercenário, ou como se falava na época Soldier of Fortune.

RP: E a remuneração era boa ?

SS: sim, para a época era algo em torno de 5.000 dólares iniciais, hoje o mesmo serviço esta girando em torno de 7,500 dólares.

RP: E você teve treinamento especial, como foi ?

SS: Sim, todos tivemos treinamento especial, foi nos perguntado se tínhamos alguma experiência militar, e qual era, e em seguida aplicaram alguns testes. Posso dizer que me saí bem.

RP: Qual a sua experiência ?

SS: Armamentos leves, tiro de precisão.

RP: Isso te ajudou no tempo que você serviu no golfo?

SS: sim, bastante, como eu tinha um conhecimento bastante amplo de armamentos leves e uma ótima precisão para tiros com rifles do tipo sniper, consegui tarefas não tão pesadas, mas tarefas que exigiam o máximo de mim.

RP: Quanto tempo você permaneceu la ?

SS: nove meses, foi o tempo que permaneci, não que não quisesse permanecer mais, pois o salário que eu ganhei foi mais do que se eu trabalhasse durante 2 anos em qualquer lugar, mas porque dispensaram não precisando mais de muitos de nós.

RP: Quanto você ganhou la ? Não pensa em voltar agora no conflito do Iraque ?

SS: Posso dizer que ganhei o suficiente para comprar uma casa quando voltei para o Brasil, e aquela época o dólar estava cerca de 3 para 1 , então foi um ótimo negócio. Quanto a voltar para o Iraque, não sei se conseguiria, eu já estou com certa idade, e eles tem um efetivo muito bom hoje la.

RP: Qual o nome da empresa que contratou vocês?

SS: não posso falar, é sigiloso, só posso dizer que é uma empresa de segurança especializada.

RP: E, quando às missões, o que mais você fazia, pode nos contar um pouco ? Ou é sigiloso também?

SS: Sim, é sigiloso, quando entramos pro serviço, assinamos uma espécie de contrato, onde nos responsabilizamos por não divulgar o que aconteceria la, nem mesmo quando déssemos baixa. Meu serviço la era o básico, com distinção de algumas missões que necessitavam de atiradores.

RP: E, muita coisa que vimos na televisão é real ?

SS: Algumas coisas sim, mas o telejornal tende a ser fantasioso, esconde muito a verdade, e somente mostra o lado dos soldados americanos e não dos que são mercenários.Muitos conflitos que mostram sendo como ganhas pelos soldados americanos, na verdade foram ganhas pelos mercenários.

RP: É verdade que vocês não tem responsabilidades pelos seus atos, mas também não tem os direitos de um soldado comum ?

SS: sim, é verdade, não que não tenhamos responsabilidades, não podemos sair atirando em qualquer um, mas às vezes erros acontecem e civis são atingidos, mas se formos pegos pelo inimigo, não temos direito a julgamento como um soldado, ou seja a ONU não nos protege. Somos como civis lá. Constantemente mercenários são mortos, muitas vezes capturados em combates, e são enforcados e deixados expostos,como um aviso para que os EUA recuem suas tropas.

RP: e ninguém faz nada ?

SS: quando assinamos o contrato, sabíamos dos riscos, e sabíamos que se um soldado inimigo nos pegasse poderíamos ter esse fim, esse é o motivo do salário ser alto, pagamos o preço.

RP: Você matou muitos la ?

SS: vamos dizer que imobilizei bastante inimigos, matar é uma palavra que não costumo utilizar muito. Mas foi para isso que fui pra la não foi ?

RP: E você não se arrepende ?

SS: No começo você até pensa um pouco, até fica um pouco assim digamos abalado, mas depois você acaba se acostumando. Aliás quem não se acostumar, acaba ficando louco. Por isso que temos bastante ex-combatentes que sofrem de distúrbios mentais, eles simplesmente não aceitam o que fizeram.

RP: E você aceita?

SS: Normal para mim, sem arrependimentos. Se preciso fosse faria tudo novamente.

RP: E no Brasil, o que os seus familiares e amigos falam sobre isso ?

SS: Com exceção de minha família, meus amigos não sabem, pois naquela época para manter contato, não tínhamos email, nem internet, somente cartas escritas e telefone, então esses nove meses eu passei praticamente incomunicável.

RP: e no Brasil, hoje em dia alguém sabe que você é ex-combatente, que foi para o Kuwait?

SS: Não sabem que estive no Kuwait, sabem que sou ex-militar , que tenho treinamento e servi em algum lugar. Não entro em detalhes porque o Brasil é um país que tem várias etnias, e a comunidade árabe é uma das maiores do mundo. Não posso sair por ai falando que fui pro Kuwait e matei árabes que algum árabe que mora no Brasil pode ficar ofendido e querer me atacar sem motivo.

RP: Você não acha que isso é um pouco exagerado ?

SS: não, é totalmente passível de acontecer, tanto que alguns anos atrás uma família de libaneses que vive no Brasil, deixou o filho de 17 anos ir lutar no Líbano e ele acabou sendo morto. Quantas famílias daqui do Brasil podemos imaginar não tem parentes lutando no Iraque ou tiveram na guerra do golfo contra os EUA? E se eu imobilizei um deles ? Também não posso falar abertamente que estive la por causa da clausula do contrato que pede sigilo.

RP: Foi bom, você faria tudo novamente?

SS: sim, como já respondi anteriormente, foi uma boa época, ganhei bastante dinheiro fazendo o que eu gostava, sempre fui militar, então se pudesse fazer tudo novamente, com certeza eu faria.

RP: Soldado Silva, muito obrigado pela entrevista. Não se preocupe que seus dados não serão revelados, até porque, você não revelou muito para nós. Até logo.

SS: Eu que agradeço a oportunidade, e até logo.

gulf iraq

Fonte: recebido por email

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