Por Rodrigo Werneck | Publicado em 04/12/08
Uma das grandes turnês mais aguardadas pelos brasileiros finalmente estendeu seus braços até terras tupiniquins. O Queen + Paul Rodgers, que vem se apresentando desde 2005 e que esse ano lançou o CD “The Cosmos Rocks”, aportou no Brasil para algumas apresentações que não passaram despercebidas e que irão ficar na memória de muitos por um bom tempo.
Fotos: Celso Magalhães e Henri Matthes
Muito se discute quanto ao direito e à legitimidade de Brian May (guitarra, vocal) e Roger Taylor (bateria, vocal) retornarem às atividades usando o nome do Queen. Mas a verdade é que eles são 50% da banda original, e com a morte de Freddie Mercury (vocal, piano) e a aposentadoria de John Deacon (baixo), não havia mais como reunir o grupo de forma ideal. Além disso, escolheram para o posto de vocalista principal uma figura lendária, e que em nada se parece com Mercury (embora tenha sido uma das maiores influências deste): Paul Rodgers, ex-Free, Bad Company e The Firm. Por fim, denominaram a banda resultante dessa fusão de “Queen and Paul Rodgers”, que ao mesmo tempo os diferencia do Queen propriamente dito (que encerrou as atividades em 1991), e dá a devida dimensão ao envolvimento de Rodgers.
Pois foi essa banda que encerrou, de forma brilhante, sua turnê mundial no Rio de Janeiro nesse último sábado. Com a formação completada por Spike Edney (teclados), Jamie Moses (guitarra base) e Danny Miranda (baixo), o grupo se apresentou para uma HSBC Arena que, se não estava lotada, estava suficientemente cheia (creio que houvesse cerca de 7.000 fãs no local) e bastante “quente”. A longa espera de quase 24 anos para um retorno do Queen (ou da sua “continuação”) compensou o fato da Arena se localizar num local de relativo difícil acesso para a maioria, isso somado ao fato das recentes chuvas terem afugentado em especial o público de mais idade.
Eram 22:30h quando as luzes se apagaram, e o imenso telão de ótima qualidade, localizado atrás do palco, passou a transmitir o vídeo de introdução ao show, com imagens “cósmicas”, fazendo uma alusão ao novo CD da banda. Isso gerou um clima de empolgação no público, que explodiu aos primeiros acordes de “Hammer To Fall”. Logo de imediato, ficou fácil de notar que a entrada de Rodgers deu uma cara mais pesada à banda, com uma pegada mais hard rock e “bluesy”, se comparada aos tempos em que Freddie Mercury estava à frente. São ambos excepcionais vocalistas, e como seus estilos são diferentes, não é nem necessário compará-los, mas como é muito difícil evitar isso, seguem aqui alguns breves comentários. Mercury obviamente possuía um alcance vocal maior que o de Rodgers, além de um estilo de palco mais extravagante e único. Rodgers, por outro lado, é um vocalista mais afinado (impressionante como não errou uma única nota na noite toda!) e que sabe impor seu estilo às músicas, mesmo as que não foram compostas originalmente para a sua voz. Sempre haverá quem defenda um ou outro, mas na minha singela opinião o que há é um empate, cada um sendo melhor dentro de alguns parâmetros. Mas essas comparações são mesmo irrelevantes, se May e Taylor interagem de forma perfeita em ambos os casos, e se o público sai satisfeito dos shows.
Logo, retornemos às músicas em si. O início mostrou a nova cara do grupo, como citado anteriormente mais pesada, e temas como “Tie Your Mother Down” e “Fat Bottomed Girls” mantiveram o pique lá em cima. O timbre da guitarra de May continua o mesmo de sempre, bastante definido e com distorção na medida certa. A bateria de Taylor também, apesar dele não ser mais jovem e ter que se poupar num show longo como esse. O público vibrou com o primeiro hit tocado, “Another One Bites The Dust”, e por sinal ficou bastante claro que o repertório mesclando músicas mais acessíveis com outras mais pesadas, assim como material mais antigo e mais novo, foi impecavelmente escolhido e funcionou de forma perfeita. O show fluiu muito bem, com grande dinâmica e variedade, inclusive pelo fato de Rodgers, Taylor e May se revezarem nos vocais principais (embora, é claro, essa tarefa seja primordialmente de Rodgers). Algumas músicas antigas ficam, a meu ver, até melhores na voz de Rodgers, como “I Want To Break Free” e “Radio Gaga”, que ganham uma sonoridade mais roqueira e ficam menos “extravagantes”.
Do CD lançado recentemente, foram 5 as músicas incluídas: “C-lebrity”, “Surf’s Up... School’s Out!”, “We Believe”, “Say It’s Not True” e “Cosmos Rockin’”. Todas soaram muito bem no contexto, em meio a tantos clássicos, e uma parte do público mostrava conhecer o material novo, cantando junto os refrãos. Já em “Say It’s Not True” o vocal principal foi conduzido de forma alternada por Taylor, May e Rodgers, nessa ordem, com grande efeito ao vivo.
No meio do show, alguns momentos solo foram inseridos, sem que isso se tornasse cansativo ou enfadonho. O primeiro a se apresentar sozinho foi Paul Rodgers, que tocando violão e cantando levou “Seagull”, de sua antiga banda Bad Company. Em seguida, foi a vez de Brian May sentar-se num banquinho localizado na extremidade da rampa que se estendia público adentro. Para aclamação geral, tocou “Love Of My Life”, um hit em qualquer lugar do mundo e tradicionalmente cantada em uníssono pelo público e dedicada ao falecido Mercury, de quem era marca registrada. Brian May pareceu se emocionar com a resposta do público, que viria se confirmar na música seguinte, “39”. Talvez por ser uma composição dele próprio, ficou visivelmente tocado pelo fato do público ter cantado, palavra por palavra, a letra toda. No meio da música, chamou os companheiros de banda, que se juntaram na extremidade do palco para um momento mais “intimista”, com Taylor tocando apenas pandeiro e ajudando nos vocais, mais Moses no violão, Edney no acordeom e Miranda no baixo elétrico vertical. Dispensável dizer que o público delirou. Ao final, May secou uma lágrima (imaginária ou não, foi um singelo instante de grande efeito).
Chega enfim o momento solo de Taylor. Nada como se usar de criatividade para se transformar o que poderia ser um intervalo entediante (um solo de bateria) numa das melhores partes do show. Todos os demais músicos foram para o backstage e Taylor continuou no final da plataforma, sentado no banco e com o pandeiro e o microfone apenas. Quer dizer, isso após fazer umas brincadeiras com o público, tocando com suas baquetas os riffs conhecidos de “Another One Bites The Dust” e de “Under Pressure” no baixo vertical de Danny Miranda, que obviamente colaborava marcando as posições das notas na escala. De volta ao solo em si, um roadie foi montando uma segunda bateria de Taylor na plataforma, enquanto ele ia solando e portanto incorporando mais peças ao solo. Com o kit inteiro montado e a banda inteira de volta, emendou numa incendiária “I’m In Love With My Car”, na qual cantou com seu vocal rascante e único de forma arrebatadora, e incluiu todas as viradas de bateria da versão original. Um dos melhores momentos da noite, sem dúvida, que pode ser apreciado neste vídeo amador. Taylor ainda cantou “A Kind Of Magic”, outra composição sua, na qual foi acompanhado pelo público, que tentava e por vezes conseguia cantar mais alto que o som vindo dos PA’s.
Celebrando o passado de Rodgers, a banda levou a ótima “Feel Like Makin’ Love”, do Bad Company, que foi também muito festejada por boa parte do público, gerando nítida satisfação do vocalista. No telão, imagens antigas de Paul eram projetadas, numa clara intenção de mostrar aos mais novos que Rodgers tem tanta (ou mais) história quanto Taylor e May. Outro momento solo de May ocorreu em meio às composições “Bijou” (do Queen) e “Last Horizon” (de sua carreira solo), nas quais pôde demonstrar toda a sua perícia na guitarra, incluindo os famosos sons dobrados que sempre o caracterizaram. Por um momento, em “Bijou”, a imagem de Mercury foi projetada no telão, ao mesmo tempo em que seu breve vocal era transmitido em playback.
A parte final do show foi, como já era de esperar, recheada de sucessos, que deixaram o público sem fôlego. Algumas versões chegaram a surpreender (positivamente), como por exemplo “The Show Must Go On”, que ao vivo e na interpretação de Rodgers ficou sensacional. Em “Bohemian Rhapsody”, a tradicional homenagem a Freddie Mercury ocorreu (mais uma), com um vídeo seu cantando e tocando piano podendo ser visto no telão, e o próprio áudio em playback saindo pelos PA’s, enquanto o resto da banda o acompanhava ao vivo. Na parte final, a catarse coletiva se completou com a entrada de Paul Rodgers novamente em cena, cantando a parte mais pesada da música. Um fecho de ouro antes do bis.
O público nem precisou se esforçar muito, e rapidamente a banda retornou para o segmento final, que incluiu uma música nova (a boa “Cosmos Rockin’”), um clássico do Free (“All Right Now”), e duas indispensáveis do Queen (“We Will Rock You” e “We Are The Champions”, essa última feita para fechar shows). Brian May com camisa do Brasil, tocando com clara satisfação em virtude da grande empolgação da audiência. Seu solo de guitarra em “All Right Now” foi magistral, e esteve à altura do original do grande Paul Kossoff.
Com duas horas e meia de show, já a 1 hora da manhã, a banda se despediu do público ao som de “God Save The Queen”. Nitidamente, pelas caras de alegria dos presentes, poderiam ter tocado por mais tempo, que ninguém arredaria pé dali. Certamente um dos melhores shows a aportarem no Rio de Janeiro esse ano, senão o melhor.
Setlist:
- Intro
- Hammer To Fall
- Tie Your Mother Down
- Fat Bottomed Girls
- Another One Bites The Dust
- I Want It All
- I Want To Break Free
- C-lebrity
- Surf’s Up... School’s Out!
- Seagull
- Love Of My Life
- 39
- I’m In Love With My Car
- A Kind Of Magic
- Say It’s Not True
- Feel Like Makin’ Love
- We Believe
- Bijou
- Last Horizon
- Under Pressure
- Radio Gaga
- Crazy Little Thing Called Love
- The Show Must Go On
- Bohemian RhapsodyBis:
- Cosmos Rockin’
- All Right Now
- We Will Rock You
- We Are The Champions
- God Save The Queen (tape)
Queen + Paul Rodgers (HSBC Arena, Rio de Janeiro, 29/11/08) - Reviews de Shows
Nenhum comentário :
Postar um comentário